segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O JANOTA È O MEU MAIOR AMIGO

Há dias de Inverno: A chuva cai, também caiem as ilusões e num ápice os pensamentos mais críticos invadem as nossas mentes.
Num aplanar caminhos, a chuva de ideias abunda e o raciocínio apura-se.
Gosto de estar comigo, medir o peso, a altura, o cumprimento e a largura de cada gesto que faço, que vejo fazer e que vou identificando como gestos de verdadeira caridade. Entre caridade e profissionalismo há uma diferença, eu sei... mas podendo acasalar-se o ser profissional e o ser caridoso “assim ser-se mais profissional” mais personalizado.
Sabem que, entre o fazer algo porque tem que ser feito, (obrigação) e o fazer porque o nosso ser mais íntimo fala lá por dentro e nos mostra o impacto dum gesto gratuito... aí tudo muda.
Motivação? Sim para: O Ser, o Ter, o Estar, tem que haver algo mais...”Actos gratuitos”
Descobrir a subtil idade dum acto ou dum gesto maturo com amor é um mundo dentro doutros mundos.
Tente. Vale a pena.
Viver o impacto dum gesto puro verdadeiro e simples aquece a alma, inebria o coração faz sorrir a vida.

Como? Tantas ocasiões... em família, no trabalho, na comunidade.
Lembro-me daquela velhinha, que doente em estado terminal, hospitalizada em cuidados paliativos, sem família, falava sempre do seu amigo Janota, a única família que tinha.
Contava histórias maravilhosas sobre esse personagem da sua vida, ultimamente só vivia para ele.
O famoso Janota que gostava disto, daquilo, que era sempre fiel, ia dar a sua voltinha e vinha, dizia ela...Tenho saudades dele.
O Curioso é que a Senhora Gertrudes estava mesmo para deixar esta vida, ela tinha feito uma longa preparação final. “Estava no Fim”. Estava em paz dizia ela, mas....havia algo que estava por resolver.
Pensámos então em perguntar se queria que telefonássemos ao Janota para que ele a viesse ver esse companheiro tão desnaturado segundo a nossa maneira de pensar...sim julgamentos, perdão somos seres humanos.
A esta questão, a dona Gertrudes ficou silenciosa...Havia algo escondido que escapava completamente á enfermeira que cuidava dela.
Então depois de uns longos silêncios cuidadosamente respeitados de parte a parte a Dona Gertrudes diz-nos que o Janota é mais que um companheiro, é um gato fiel, mas infelizmente os gatos não são permitidos como visitas de doentes.
Regras são regras, e o regulamento do hospital é . “Animais não são admitidos”
Claro que toda a equipa com esta notícia ficou sem reacção e sem meios para realizar este ultimo desejo da Dona Gertrudes.
Mas como não há regra sem excepção, o famoso Janota na visita da tarde veio dentro de uma alcofinha bem escondidinho visitar a Dona Gertrudes.

Foi maravilhoso ver aquela pessoa renascer, sorrir falar com ele.
Lembro-me daquela frase que nunca me esqueci.
Agora posso morrer em paz. Estou feliz.
Pensei como enfermeira que sou, tantas vezes é necessário uma coisa tão simples para ser tranquilizante de um paciente um gato, um ansiolitico!...
Utilia

11 comentários:

  1. Aiai amiga Utília...
    eu sabia que, para além de nos dares tanto nos outros blogues, estavas sub aproveitada. Como profissional de saúde e, conhecendo já a tua sensibilidade, fiquei imaginando quantos testemunhos terias para daR...AQUI ESTÁ!

    Faz-nos falta ler estes exemplos para melhor entender e auxiliar quem está no fim da linha, ou simplesmente passando alguma provação.

    Obrigada amiga pela tua coragem(que já conhecia). Pela tua sensibilidade(que já tinhas demonstrado)e pela vontade, energia e força de o partilhares.
    beijo grande

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  2. :)
    um espaço em que ficarei de olho. Sei que os enfermeiros têm muitas vidas para contar. Sei-o. É-me uma profissão querida e nada fácil. Relaciono-me, na minha actividade profissional, quase diariamente com enfermeiros. Além disso o meu filho mais velho e a minha nora são enfermeiros.

    Beijinhos, amiga. Força.

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  3. Amiga Dulce.
    Tentarei contar-vos coisas lindas de uma profissão linda.
    Sou simplesmente uma enfermeira que gosta muito e acompanhar doentes em fim de vida.
    Obrigada.
    Beijinhos da Utilia

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  4. Amiga Fa
    Não serei capaz de fazer grandes teorias.
    Tentarei partilhar um pouquinho daquilo que aprendi com aqueles que acompanhei.
    Como dizes ser enfermeiro não é fácil.

    Sabe o que é ser enfermeiro(a)?
    Isto tem mudado tanto que já nem sei.
    Conto o teu olho clinico.
    Obrigada.
    Beijinhos da Utilia

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  5. Uma maravilha esse gesto. Faria igual. Pelo "outro/a" e desde que ninguém saia prejudicado, por vezes é necessário furar "regras".
    Aguardo mais passagens da vida duma Enfermeira muito especial=Mão de Deus.
    Bjs. com carinho
    Mer

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  6. Amiga Mer
    Não se furam regras ajustam-se paramtros.
    Ninguém fica prejudicado todos ficam a ganhar.
    E aquela alma parte em paz.
    Beijinhos

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  7. Os comentários estão complicados..Parametros, corrijo.
    Utilia

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  8. Amiga,
    percebo, unicamente, o que será ser enfermeiro(a) pelo contacto com enfermeiros...
    quanto ao meu olho clínico, humm, eu diria antes social.
    Por aqui andarei com olho de amizade.
    :)

    Beijinhos

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  9. Amiga Utília,
    Descobri agora o seu novo Blog.
    Admiro muito os enfermeiros. Já tive provas do seu enorme profissionalismo e através da Utília, tiro-lhes o meu "chapéu", são imprescindíveis.
    Gostei muito do seu texto.
    Sempre que puder venho dar uma espreitadela.
    Beijinhos com o meu carinho.
    Ailime
    (Quando me reformar vou tentar, se tiver saúde, ser voluntária num Hospital. É um um sonho de há muitos anos)

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  10. Ser infermeiro(a) é uma linda profissão, como outra qualquer dizeis vós... mas esta é diferente é "cuidar do ser humano".
    Implica pensar, fazer, dizer, agir acertivamente, actuar e transmitir,sim agora é preciso registar tudo no computador, não escapámos, este é o único cuidado que indiretamente justifica o enfermeiro e toca o doente....ou par lá caminha.
    Obrigada
    Beijinhos da Utilia

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Um sorriso... mesmo quando tudo e todos se esquecem que ainda vives.
Obrigada