quarta-feira, 11 de julho de 2012


ABANDONAR A LUTA? NUNCA
Convencer-se de que o Mundo é uma série de objectos factos, de determinadas situações que nos escapam não é fácil, isto porque o controle é a barra das tabelas.
Mas que seríamos nós sem parâmetros limites e sem as abcissas dos ramos adjacentes?

Contas feitas e tirada a prova dos noves isto de certeza daria uma totalidade absurda que projectada numa soma de números, mais seria uma diminuição que uma adição.

O tutoremos aquilo que verdadeiramente me é necessário.
“Tudo para nada dizer”...Dizeis vós, porque, por outro lado “os dizeres” nada sois sem uma acção completa duma execução de factos.
Mas porque Hoje é o agora que sente e chora
O rodar dos gonzos das porás ancestrais.
Vou abrir com chaves pesadas portas encostadas.
E
Marinando bem as palavras numa marmita de cobres, chego á conclusão que as coisas são metade do que poderiam ser, exigem esforço, capital energético para serem direccionadas no sentido do percurso.

Negar os abismos das pequenas incidências
Limpando lágrimas secas dos olhos
Agitando ao vento a ultima que pereceu.

Não é o caminho..

Quantas vezes choraram as lágrimas que engoli.
Quantas vezes me deram conta que me perdi.
No ritmo afrouxado dos enganos e desenganos.
Mágoas que magoam
Nesta mais humana certeza dos encontros e desencontros
Nesta terra que piso
Transpus os versículos duma vida.
Deles desterrei a riqueza que sou
Transplantando-a num vaso de cristal
Frágil tilintante ao toque.

O toque duma vida
Quebrou-se
Quebrei, o som do ritmo

Cada sonho, cada luta cada passo que
Plantei.
Ficando assim a assimetria dos estilhaços transparentes
Espelhando a imagem do que sou.

Pergunto tantas vezes ao sol em que direcções apontam os seus raios e ele responde sempre: cada dia voltarei e espelharei sobre a tua face a transparência da teu ser na tua identidade
Utilia Ferrão












sábado, 2 de junho de 2012

EPISÒDIOS


Há instantes na vida de uma enfermeira que nunca esquecem....
E tantas vezes, coisas que nos colocam ali ...em frente  algo que desconhecemos
 Mas que  nos faz compreender o quanto somos pequeninos....e toda a sabedoria que aprendemos nos livros fica-se ali desmaiada perante  algo maior que nós.

Utilia Ferrão

terça-feira, 29 de maio de 2012

O TOM? É O MESMO


Pego na caneta de tinta preta
E nesta folha em branco,
Nascem rios de palavras envolventes.
E num ondular de ideias transparentes.

Saídos da torrente tumultuosa da minha mente.
Os silêncios afrontam em pensamentos
Privilegiados momentos...

Saberei eu amigos um dia,
Contar-vos o que os meus olhos vêm
 E os meus ouvidos ouvem

E o tudo sentir?

Ouçam bem
Falo-vos da vida,
Nela vivi, sempre dela cuidei
E nela morri para viver.

A vida é preciosa
E porque não tem preço
Apresso-me a senti-la, abraçá-la, acolhê-la.
A cada passo.

Neste instante pulsa-me o coração
Em sintonia com tantos outros
Ao mesmo ritmo e com o mesmo bater,

O tom? É o mesmo.

Mas este aqui é o de um bater mais lento.
Vem-me agora mais sentido,
Mais batido.

Oiço-te sim...

Ai se soubesses apreciar estes momentos
Em correntes de Água Viva,
O quanto o mundo dos teus mundos
Passaria de efémero a duradouro.

E porque é eterna esta verdade
Adormeço na margem deste rio,
Embalada pela água
Que canta e me leva na corrente.

Oh mente, caminha, navega, vai, sente.
Atravessa para a outra margem.
Leva contigo o teu destino

Utilia Ferrão





segunda-feira, 23 de abril de 2012


A DOR 
Para percebermos um bocadinho da dor em doentes terminais


A Dra. Maria Goretti Sales Maciel
Diz-nos que...

O conceito de dor hoje mundialmente usado é o da Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP) e afirma que a dor é uma “Experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou descrita em termos de tal dano”. Este conceito avança na direcção de admitir que a dor é uma experiência única e individual, modificada pelo conhecimento prévio de um dano que pode ser existente ou presumido.

Neste sentido, a dor de um paciente portador de uma doença fora de possibilidade de cura pode ter uma conotação terrível pelo fato de lhe dizer  de  certa forma que a sua morte está a caminho.

Para algumas culturas, este sintoma também pode ser associado à expiação de culpa ou ser parte natural de uma doença, não podendo ser tratado com sucesso.

Portanto, admitir a importância do alívio da dor desde o início do tratamento de uma doença até as últimas horas de vida é condição fundamental para todos que trabalham com doentes em qualquer especialidade. O conhecimento do seu controle deve ser parte da formação obrigatória de todos os profissionais da área de saúde, sobretudo do médico, responsável pela prescrição de medicamentos imprescindíveis para o seu alívio.


NA MINHA OPINIÃO
A dor tantas vezes está presente vê-se mesmo sem que os pacientes falem
Vê-se no rosto deles nas palavras que dizem na forma como falam, nos gestos e nas atitudes, não falo só da dor física aquela que está localizada e se aponta  mas na dor  a outra aquela que se difunde confusamente entre o medo a solidão e  a angustia da morte e é essa dor que os enfermeiros, e outros cuidadores  apalpam quando cuidam de doentes terminais.


“Na década de 1960, a médica inglesa Cecily Saunders acrescentou ao conhecimento da dor o conceito de dor total, através do qual admite que uma pessoa sofre não apenas pelos danos físicos que possui, mas também pelas consequências emocionais, sociais e espirituais que a proximidade da morte pode lhe proporcionar. Saunders estabeleceu a importância de uma abordagem multidisciplinar e da presença de uma equipe multiprofissional para que se obtenha o máximo sucesso no tratamento dessa pessoa. De fato, ao abordarmos pacientes portadores de doenças evolutivas e sem possibilidade de cura, percebemos muitas vezes que em determinadas situações os medicamentos não são suficientes para proporcionar o completo alívio da dor maior de viver os últimos dias, de não entender por que está gravemente enfermo, de deixar filhos desamparados, separar-se de seu amor, de não poder sustentar sua família e de não conseguir compreender o real sentido para a sua vida.
A dor é primeiro Sentir.
Imaginá-la é precedê-la
Para todos é diferente.
Não há remédio maior que perceber
Verdadeiramente o que se sente.

A luz do Teu olhar
Ao sabor da alvorada
Vem em mim sempre a dor aliviar
Deito os olhos sobre o teu labirinto
Ligado ao firmamento fica o sentimento.
A brisa ligeira invade o Ser
E o vento arrasta -o
Para um novo amanhecer.

Mesmo quando tudo parece virtual
Até quando o bem parece mal
A vida continua...
Já o caminho se torna fútil.
Compreendi e passei ao Essencial
Pois a vida é trivial.
Caminhei lutei, suei, sonhei e deliberei
Eu sei a vida continua...

Utilia Ferrão
Em http://demaosdadasnacaminhada.blogspot.com

domingo, 15 de abril de 2012


A verdade é que a palavra certa no momento certo, pode ser remédio na solidão na angústia. E na dor.
Pode ser Paz, pode ser luz....

Retirado do meu blog “DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA”

Palavras

As palavras levam o vento.

Elas caiem dum céu azul, brilhante.
Iluminam a face do mundo.
Estrelas que bailam diante dos meus, dos teus olhos.
Tanta luz em cada palavra...

Arrebatam á sua frente Sentimentos.

 Os pensares? Ares do dizer e do fazer.
Vão tão longe”. ...”As Palavras.
O nosso povo diz: “Do dito ao feito vai um grande eito”

Eu digo: as palavras certas na hora certa, fazem milagres.

São vivas e reais, contam histórias adormecidas.
Por vezes realidades ancestrais.
Na raiz, as palavras, alimentadas com a “Palavra”
Dão senso á Vida e ao viver.

 Árvores de troncos viçosos, com folhas cheias de verde Esperança.

São loucas, por vezes, mas apenas aos olhos humanos.
Julgamentos pessoais e sociais, quebram alguns ramos.
E apressadas dizem e não dizem, mas falam sempre a verdade
Quer escritas quer apagadas, elas bailam no pensar.

Falam, choram, cantam e sorriem, elas dizem, sabem?

Mentirosas as palavras? Não, nunca.
Incertas? Sim, elas são certas e reais.
Trazem sempre ao ouvido (no papel) o que o coração sente.
O que de profundo, no intimo o Homem vive.

Dão fulgor aos frutos, e mesmo os mais pequeninos, são suculentas.

Apanhem-nos por favor, nunca os deixem apodrecer nas árvores sim?
Saibam apenas escolher, o nosso povo diz: “ As aparências iludem
Os mais bonitos ao olhar, podem até nem ser os melhores.
São todos frutos da mesma árvore.

Elas têm carácter, “as palavras”: Eu sei.

São palavras soltas, ligadas a eles (as) a mim e a “Ele”
Deixo-as como herança do meu Sentir, do meu saber,
Colhidas no meu viver de cada dia que passa.
Despendo-as com jeito e coloco-as aqui, nesta folha caída “Daquela Árvore”.

Frutos pequeninos e selvagens, as minhas palavras

Ofereço-as á, Palavra Maior: “AMOR”.
Convicta que esta, é, foi e será a “CHAVE”
Que abriu, abre e abrirá todas as portas.
Com Muito “Amor”. Sempre e para Sempre.
Para Ti, para vós, para eles (as).

Utilia Ferrão.

quinta-feira, 12 de abril de 2012


O enigma da razão
Deixei de ser vítima dos problemas
Deixei de usar aquela veste que tapava o meu ser
Deixei de contar os dias que me separam de ti.
Deixei tudo, mesmo a mim
Mas Sou, Eu... Estou
Sou agora autor na minha própria história

Utilia Ferrão

domingo, 8 de abril de 2012

SERES HUMANOS



Ninguém é ninguém? Eu e tu somos quem?
Procurando encontra-se sempre mais alguém...

Sou essa brisa ligeira que te refresca a face.
Sou aquela gota transparente do Teu Tudo
Sou apenas a parte móvel do teu intento
Leve levemente tocas-me o pensamento.
Utilia Ferrrão

PEDAÇOS DE MIM FICAM


PEDAÇOS DE MIM FICAM

Em sítios limitados á minha existência.

Deixei de subsistir no pó que sou
Trégua de espaços lançados pelo vento.
Átomos de mim, deixo na mão do Criador

Nada sou...Mas Sou.
Acção e contradição
O enigma da razão

“Deixei de ser vítima dos problemas
Deixei de usar aquela veste que tapava o meu ser
Deixei de contar os dias que me separam de ti.
Deixei tudo, mesmo a mim

Mas Sou, Eu... Estou


Sou agora autor na minha própria história.
E numa apresse final,
Agradeço a Deus pelo milagre da vida

E...

Desafiando o meu sentir
Numa sementeira, desenfreada
Ao sabor da inanidade
Levo pela tempestade
Da vida as minhas quimeras
 Que caiem na terra húmida,
 Restos do que fui.

As minhas falências...


Valiosíssimas preces, para bem dizer
Graças a Deus
Bendito seja o Senhor, pois Ele ouviu a minha voz suplicante.
Sl 28-6

Compreendi

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
Seguir...o seu fado
Plantar sempre e fazer crescer.
Viver e dar á Vida o que dela resta

É a vida... Principio, Continuidade, (Sequência) e Eternidade

“Saberei aproveitar da Luz.
Difícil, é separar os pedaços.
Verdadeiros malhões agarrados
Em correntes.”

Meus Amigos e Todos os que por aqui passam e passaram
Agradeço, estes preciosos momentos convosco, neste meu cantinho.
Foi maravilhosa a minha vida , continuará a ser, sem dúvida.

Obrigada

Deixo a minha cortina aberta.
Podeis espreitar


Utilia Ferrão

VAMOS MAIS LONGE


Sempre que o homem pensa
Restes de luz surgem diante dos factos.
E examinando bem os conteúdos
Apenas se descobre o que se quer.

Assim simplesmente

Tantas vezes paz, tantas vezes luz
Certezas dos nadas
Vibrações do Tudo em mim de Ti
Sinuosidade na distancia entre ti e mim.

Que no silêncio apalpo.
.
Turvada a minha vista não esqueci o teu olhar
Imensamente terno, ilimitado
Tuas palavras de coragem, ascenderam
Duma maneira linda o meu saber.

Registou, Registei

Palavras de coragem
Palavras de amor
Palavras de frequência
Palavras de incidência
Palavras de Paz
Palavras de Luz

Eu senti

Palavras, soltas, quase insignificantes
Elas eram para mim
Nada, nem ninguém mas deturpou.
Minhas?
Mas eu dou-as são para ti, amigo (a)

SAUDADE

Saudade, SAUDADE....Tanta
Ficou... e não quero destruí-la
Ela coloca a cada segundo
Um rebento novo naquela roseira já seca.

Flores muitas rosas para todos vós
Utilia Ferrão

sábado, 24 de março de 2012

SILÊNCIO E LIBERDADE


Ao escutar o Teu silêncio no meu corpo, dou asas ao meu voar
Adenso os mais altos lugares, lá onde o sol se faz Luz.
Palpo a escuridão em pez duro de cerviz.
Nada me perturba, nem a dor, nem a fome...
Incomoda-me a mentira

Estás comigo? Eu sei.  
.
E a sabedoria não é mais que desalinhar ideias precárias.
Já que a noite dos meus pesadelos se afoga no Teu olhar
E os prados verdejantes da minha alma crescente
Espanam a falência do meu espírito.

Nada sou...

A minha ignorância precavida, encara a sabedoria traiçoeira...
Mais sábio que o sábio é quem tem a dúvida. “Nada sei “.
O ignorante? Esse cinge as rédeas e segue com seu burrico.
E na solidão coloca o silêncio das barricadas do destino.

Estou contigo.

“A liberdade cria-se para melhor se encontrar...”

Cristo entregou-se (Ef 5,25)

Utilia Ferrão
Retirado do meu blog   http://demaosdadasnacaminhada.blogspot.com
Tanta vez o silêncio nos fala... É nele que se revelam os grandes mistérios

LÁGRIMA NÃO PERDIDA


Aí ... mas de que serve imaginar
Regiões onde o sonho é verdadeiro
Ou terras para o ser atormentar ?

É elevar demais a aspiração,
E, falhado esse sonho derradeiro,
Encontrar mais vazio o coração.

Fernando Pessoa, in Soneto XXXIV
A lágrima caía fazendo um sulco naquela cara rugosa.
Eu queria pegar nela, perguntar-lhe:
_Porque queres nascer, para morreres tão depressa e caíres logo esquecida?
E a lágrima tornava-se cada vez maior,
Tinha sabor a sal, sabor a água, mas era uma lágrima.
Descuidei-me e ela caiu na minha mão.
Confundida no sofrer do outro, procurei a dor mas só encontrei a Vida.
Voltei-me para o sol e senti que não conseguiria viver outro momento igual a este
Ele era único, intenso, meu e só meu, agora e aqui,
Por isso saboreei-o.
Nunca mais voltará...
È o momento de uma lágrima, uma lágrima que agora sorria.
Só quem vive intensamente cada segundo pode compreender o segredo da lágrima
Utilia Ferrão

Do meu blog “DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA”
E as lágrimas se fossem analisadas encontrar-se-iam não simples moléculas de água mas sim: amor, dor, tristeza alegria também.
A lágrima que quiseres escolher.

sexta-feira, 23 de março de 2012

GESTOS SIMPLES QUE SÃO MAIS VIDA


Óleo de perfume põe em festa o coração e a doçura de um amigo vale mais que o conselho de si mesmo
Provérbios 27:9 "
SORRIA

Imerso em certos problemas
Fica-se o sorriso fechado no cofre da alma

Ele que é solução para tanta dor...
Envolvido no amor-próprio,
Apaga-se como uma luz frágil...

Esquece-se que é remédio para um coração triste

Hoje, Vamos espalhar sorrisos, pelo mundo inteiro, e convictos de que o sorriso alegra o coração, transforma os rostos, dá alegria, vamos abrir-lhe as portas, libertá-lo da alma cativa.

Sorria...Sorria...Não saia daqui sem levar um sorriso.
Mesmo se não conseguiu levar mais nada.
Leve este sorriso.
Se Passar sorria, se ficar sorria.

O meu sorriso será sempre para ti: quem quer que sejas.
Onde quer que te encontres.
Saberás verificar o seu sabor, a sua cor, a sua luz, a sua intensidade, a sua humildade e a sua Esperança.
Simplesmente sorri.
Utilia Ferrão
Retirado do meu blog  http://demaosdadasnacaminhada.blogspot.com

Gestos simples que podem modificar a vida de alguém e sobretudo se  está triste.
E é assim que tantas vezes contagiamos os nossos pacientes distribuindo doses de sorrisos...

quarta-feira, 14 de março de 2012

O NOSSO OLHAR E A VERDADE



Cada vez que sorris a alguém, realizas um acto de amor"
Madre Teresa De Calcutá.


Relembrando o primeiro congresso sobre A vida e A Morte, em Novembro de 1996

Franck Ostassesk. alerta-nos para não nos tomarmos por salvadores.


Sabermos distinguir utilidade e identidade.

Devemos estar atentos aos sentimentos de poder...


Vamos reflectir sobre estes passos importantes que nos podem ajudar a compreender certas reacções do paciente e certas insatisfações do acompanhante .
 Retirado do meu blog  DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA
Tantas vezes a nossa posição, pelo que somos, pela profissão que desempenhamos ou pelo cargo que assumimos no seio de uma equipa leva-nos mesmo a compreender certas reacções que muitas vezes esmagam todo o trabalho que o paciente procura fazer para viver como qualquer outra pessoa com as capacidades que tem.
Lembro-me daquele paciente que conseguiu um carrinho para se deslocar sozinho.  
A alegria que ele teve quando pela primeira vez foi capaz de ser "independente" depois de dois anos de luta.

Ele dizia: "Já não sou um coitadinho"

O que mais me custa, é que olhem para mim, e ver na cara das pessoas, ou entender por palavras ou até por gestos a reacção que causa nos outros as pernas que não tenho...”

Muitas vezes palavras que até parecem piedosas são inadequadas.
Lembro-me de uma doente que um dia me perguntou se voltaria a caminhar.
Muitas vezes os enfermeiros são confrontados por perguntas directas, olhos nos olhos.
Foi o que aconteceu comigo.
Perante tal pergunta disse-lhe a verdade, que
não caminharia mais...
E ela reforçou a pergunta:
-Nem mesmo com a minha bengala?
disse, não...

Depois de ter respondido, fiquei um pouco incomodada, a paciente deu conta...
E avançou na conversa dizendo: Eu não fiquei triste com a resposta que me deu, mas ficaria triste se me tivesse mentido, porque eu sei a verdade.
Os pacientes esperam de nós honestidade nos nossos cuidados, esperam profissionalismo e também humanismo.
Um relacionamento verdadeiro.
Utilia Ferrão

segunda-feira, 12 de março de 2012

PRESENÇA: AUSENCIA


OUTONO



Quando os números já não são matemática.
Nem as flores palavras.
Nem a alma conhece o destino
Nem o pensamento opina? 

É a Vida, eu sei.

E as folhas do Outono que teimam em cair…

Caiem como meteoros desfragmentados, 
Contra as paredes do destino.
Retornando ao solo que as absorve.

É a Vida, eu sei

E as folhas do Outono que teimam em espalhar-se…

Resta-nos sim, algo…”Aquela Força”. Que as move.
Ver aquelas árvores abanando os restos dum Verão Escaldante 
Sobre a Terra que as ampara, não deixa de ter o seu sentido.

É a Vida, eu sei

E as folhas do Outono que teimam em encontrar-se…

Frágeis… sofrendo dignamente os abanões do Outono.
E aquelas pérolas de seiva que correm dentro das recordações,
Aonde passaram?

Sim, eu sei e vós também, todos sabemos é a Vida.

Folhas de tantas cores, nenhumas se parecem com a cor da saudade



Cansadas de estar no topo da árvore caiem por terra.
E ilesos para verem as folhas caírem,  
E sentirem a luz terna do sol, baixando no horizonte,

Resta-nos sim, algo …”Aquela Força”.

E as folhas do Outono deixam um segredo: as Primaveras voltarão com outros rebentos: 

Utilia Ferrão

Aquele estado da vida antes de chegarem outras Primaveras...
Poema retirado do blog DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA
Utilia Ferrão

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

HÁ SEMPRE ESPERANÇA II


ESPERANÇA 2
 Esta história é uma história verdadeira, não é minha, embora eu fosse uma figurante.
Passou-se há alguns tempos: esta filha e esta mãe quiseram oferecer-me este presente que partilho convosco. Retirada do meu blog  “DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA”
Falamos sobre este assunto? Obrigada pela partilha.
Pois não há amor a Deus sem amor ao próximo
I João 3:20,21.

Aqueles gritos estridentes deixaram-me trémula, pensei: de onde vem tanta dor?
Aqueles soluços eram um pranto, chegado na hora da despedida, uma entrega a um destino ao qual ninguém pode escapar...Todos sabemos

....Mãe, só te tenho a ti és a minha única família, tu não vais deixar-me, é através de ti que eu ainda vivo.
Já não disfarço mais, já não culpo ninguém, as pessoas aproximam-se de mim, mas eu quero estar só, mas tenho medo.
Enquanto olho o teu corpo indefeso nesse leito, eu pergunto-me, mas porquê?
Meu Deus, eu rezei, aos santos todos, aonde estão eles agora?

Mãe ainda és tão jovem...
De um momento para o outro os teus olhos fecham-se, o teu sorriso apaga-se e é o fim.
É-me insuportável esta ideia, mas olho para ti e sinto-te cada vez mais longe de mim mas tão perto.
Mas o que mais me preocupa é a solidão, nunca pensei tanto nela, nunca a vi tão perto nem mesmo quando me deixaste pai.
Só, sentada neste banco da entrada do hospital... foi tudo tão rápido, nem sequer tenho tempo para te dizer adeus, estou confusa, tudo se passa em mim ao mesmo tempo, entre a revolta, a minha dor e a tua, que se confundem sinto-me perdida.

Estava eu assim, quando alguém se aproxima e me diz: venha, vamos estar um bocadinho com a sua mãe, vamos conversar com ela, ela vai ajudá-la... Pensei, a minha mãe ajudar-me como?
Surpresa das surpresas, pouco tempo depois dei comigo debruçada, sobre os braços da minha mãe revivendo histórias da minha infância, a minha entrada na universidade, a nossa vida noutro pais aonde ela era a minha rainha.
Entoei os teus dons mãe, vi e senti tão forte dentro de mim que eras a melhor mãe do mundo, e entre sorrisos e lágrimas olhava para ti e via que os teus lábios ainda sorriam com as minhas histórias.
Pedia-te para ficares comigo, mas eu sabia que não eras senhora da tua própria vida, mas sabes, estes momentos que passei contigo e que aproveitei ao máximo fazem-me feliz, sinto que fiz tudo por ti, e até fiz coisas que pensava nem sequer ser capaz de fazer
Obrigada mãe por tudo o que me deste e por último a força que senti nestes últimos instantes que tenho gravados no coração.
“Deste livro tão grande que é a nossa vida.·
Temos direito a reescrevê-la, mas nunca a apaga-la....”
  Como esta frase me soa verdadeira
E também compreendo que nunca apagamos nenhuma página, mesmo aquelas que estão riscadas ou têm borrões.”Porque depois do epicentro da dor voltamos a lê-las embora com lágrimas por ser saudosa”
As escritas com o coração deixa saudade trazem saudade mas também nos alegram.
Deixam também o silêncio, o verdadeiro e aquele que fala e não mente.

Outros pediam para continuar:”
Continua, eu peço a deus que te ajude a continuar. Saudades “
E a coragem aumentava sempre e o que se dá é sempre muito mais que o que se recebe.

HÁ SEMPRE ESPERANÇA....
Utilia Ferrão