quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Uma “ajuda só é eficaz se quem precisa a aceitar.”

Uma “ajuda só é eficaz se quem precisa a aceitar.”

Li esta frase no blog da Fa, mas já a tinha bem presente nos meus pensamentos o que me levava muitas vezes a servir-me desta ideia nas minhas práticas.
E entre o cumprir um dever profissional, executar tratamentos, cuidar da higiene, ás vezes escapa uma outra parte do conforto...
Claro não deve escapar, mas para se dar conforto será que isso depende só de uma prescrição médica, do lavar um doente dos pés á cabeça todos os dias, do posicioná-lo, do alimentá-lo, do administrar a medicação com toda a técnica?

Sim depende, mas nem só...Também depende do compreender a situação, do estado da doença no doente e também o impacto que essa mesma doença tem nessa pessoa, na família, e também na comunidade.
Compreende-se que:
Um doente com dores não pode estar confortável,
Um doente com a fralda suja não pode estar confortável
Um doente cujos tratamentos não são feitos não ficará confortável.
Mas tudo isto é tecnicamente feito e mesmo assim o doente não se sente bem, e nós vemos o desconforto daquelas criaturas।

A dor moral, que afecta a alma e o corpo... essa, nem sempre nos apercebemos . Mas ela corrói a alma e destrói o corpo.
Ou muitas vezes nós enfermeiros até a detectamos mas o tratamento implica tantos “remédios” que nos sentimos incapazes de acção.
Eu chamo a isto: “o paciente está socialmente desconfortável”.
.
Lembro-me daquela Senhora Andina, que no dia de Natal encontrei a chorar.
Como é óbvio perguntei: tem dores? A resposta foi rápida, e foi não.
Perguntei: então porque chora?
“Tenho sete filhos e hoje que é dia de Natal e que faço anos, nenhum se lembrou de mim.”

Concluo que muitas vezes não conseguimos dar conforto, e a frustração apodera-se de nós, neste caso não conseguimos cuidar, faltam-nos os meios... outros que os usuais....

Claro o caso foi tratado com os meios que havia, cantámos os parabéns, valorizámos a paciente, contámos histórias, e ao fim do dia sempre apareceu uma das filhas.

Por fim perguntei-me: nesta história quem precisava de ajuda?
Meios técnicos?
Meios sociais?
Meios Morais.
Recursos humanos?
Fiquei-me assim a pensar....
Para a próxima será melhor, haverá bolo, champanhe, velas flores e a família toda reunida.

Utilia

4 comentários:

  1. Lindoooooooo.
    «nesta história quem precisava de ajuda?»

    Acho que os filhos precisavam de ajuda moral...ou seja, aprenderem a amar como ELE Quer
    que amemos.
    Bjs.
    Mer

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  2. ... ou não. (este "ou não" vem na sequência da tua frase final). desculpa contrariar-te, mas... (ai este meu lado pessimista!) nem sempre na próxima as coisas melhoram. às vezes é preciso tão pouco, por exemplo, uma presença que tarda em se fazer presente. e tudo que que se fizer, por mais e melhor que se o faça nunca preenche um vazio, apenas minimiza um sofrimento, o que já não é mau, mas não podemos dar o que não está nas nossas mãos.
    continua.

    bjins

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  3. Amiga Mer
    O problema é que a vida é dificil.
    Os filhos muitas vezes esquecem-se que têm pais.
    A sociedade perdeu muitos valores.
    Mas nada é impossivel.
    Beijinhos da Utilia

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  4. "às vezes é preciso tão pouco, por exemplo, uma presença que tarda em se fazer presente. "

    Vês que as coisas podem melhorar...

    A familia é indispensável no restablecer da saúde de um paciente e esta senhora sentiu a falta dos filhos, chorou.

    Mas cada pessoa tem um passado e muitas vezes ele arrasta-se no presente, outras vezes a menssagem não passou.

    Sei bem o que um gesto pequenino pode trazer como conforto.

    Quando os doentes estão para morrer constatei que se estão bem acompanhados pelas familias morrem em paz.

    Dei conta na minha profissão...já o sabia que uma familia é a maior riqueza da vida e se essa riqueza desaparece a vida para quem está doente não tem sentido.
    Beijinhos amiga.

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Um sorriso... mesmo quando tudo e todos se esquecem que ainda vives.
Obrigada