sexta-feira, 6 de maio de 2011

PRESENÇA 2

PRESENÇA II
E Sempre na verdade...

Não quero de maneira nenhuma ir contra tantas teorias aprovadas e validadas mas simplesmente quero levar uma pequena nota pessoal, aquela personalização de certos actos.
E vamos hoje falar da angustia do familiar que no auge da felicidade, recebe a noticia de que a sua companheira(o) aquela (e) que escolheu para viver uma vida cheia de sonhos reais...terá uma vida limitada pela doença, “o cancro”.

AO Acompanhante
È nesta curva da vida que é necessário ter-se as palavras verdadeiras e os gestos certeiros para evitar que aquele que se está a acompanhar e o acompanhante não abandone a batalha: Sim porque este trabalho de acompanhar alguém, é sempre uma batalha entre o que é possível fazer-se, e os nossos limites pessoais, os nossos medos e também as nossas capacidades  de intervenção e aquilo  que verdadeiramente se quereria obter como resultado.

Quando nos deparamos com o imprevisto, é aí que muitas vezes se pára e se começa a ver e a sentir o verdadeiro sentido da vida.
Aprecia-se a saúde que se tinha e pensa-se em lutar pela cura, uma cura que muitas vezes ultrapassa o entendimento dos peritos na matéria. Mas a Esperança é sempre um objectivo que nunca se apaga nem mesmo com o peso da luta.
Será que a doença de um familiar neste caso, o cancro é motivo para se desanimar, se sentir frustrado? Sim é motivo para se ficar muito triste, mas por outro lado o que se tem que pensar é:

Quem está doente eu familiar acompanhante ou o outro?

Talvez sejam duras as minhas palavras mas poderão ser úteis num processo de acompanhamento que se quer digno e humano.

Depois desta questão...Surge logo a resposta da consciencialização: se eu fico doente porque o outro está doente, sou apenas mais um doente e a minha intervenção de ajuda não vai ser eficaz, mas por outro lado se eu estiver bem, saberei lidar com os problemas.
Sabemos que, muitas vezes o familiar que acompanha tem de aprender a lidar com uma nova situação revestindo de palavras e actos aquilo que magoa, e desta forma acho que um diálogo franco e verdadeiro pode ser doloroso, mas é sempre uma fonte de partida para se conseguir aproveitar o melhor num todo e mesmo na doença.

Um elemento externo pode ser útil para quebrar o silêncio.
Neste caso em que se começa a lidar com uma situação que escapa tanto ao doente como ao familiar a conspiração do silêncio não é favorável mas por outro lado tem que haver um trabalho progressivo sem de modo algum desrespeitar a intimidade e a vontade de parte a parte.

Há uns anos atrás alguém telefonou-me a dizer-me o X está hospitalizado, tosse muito e estão a fazer uma biopsia ao pulmão...e diz-me, estou preocupada, estão a fazer exames e de certo é uma tuberculose.

Talvez, disse: mas também pode ser outra coisa qualquer.
Já pensei até num cancro diz-me ela.
 E na verdade era um cancro de pulmão, e um dia essa familiar recebeu a notícia por telefone...Não foi a melhor maneira de anunciar tal coisa, mas por outro lado depois do choque inicial esta esposa começou logo a preparar-se para enfrentar as dificuldades e acompanhar o marido até ao ultimo instante.
A verdade sim mas no sitio certo na hora certa e com uma preparação prévia.
Utilia Ferrão


1 comentário:

  1. Não é nada fácil comunicar a palavra ou o dito certo, no momento certo e no local apropriado. Acho que isso exige muita aprendizagem, principalmente a nível pessoal. Mas mesmo que saía de modo adequado, ou não, é preferível ao silêncio em muitas situações, até para que os outros aprendam a encarar a verdade e a saber como lidar com ela. Bjs

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Um sorriso... mesmo quando tudo e todos se esquecem que ainda vives.
Obrigada