quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

HÁ SEMPRE ESPERANÇA II


ESPERANÇA 2
 Esta história é uma história verdadeira, não é minha, embora eu fosse uma figurante.
Passou-se há alguns tempos: esta filha e esta mãe quiseram oferecer-me este presente que partilho convosco. Retirada do meu blog  “DE MÃOS DADAS NA CAMINHADA”
Falamos sobre este assunto? Obrigada pela partilha.
Pois não há amor a Deus sem amor ao próximo
I João 3:20,21.

Aqueles gritos estridentes deixaram-me trémula, pensei: de onde vem tanta dor?
Aqueles soluços eram um pranto, chegado na hora da despedida, uma entrega a um destino ao qual ninguém pode escapar...Todos sabemos

....Mãe, só te tenho a ti és a minha única família, tu não vais deixar-me, é através de ti que eu ainda vivo.
Já não disfarço mais, já não culpo ninguém, as pessoas aproximam-se de mim, mas eu quero estar só, mas tenho medo.
Enquanto olho o teu corpo indefeso nesse leito, eu pergunto-me, mas porquê?
Meu Deus, eu rezei, aos santos todos, aonde estão eles agora?

Mãe ainda és tão jovem...
De um momento para o outro os teus olhos fecham-se, o teu sorriso apaga-se e é o fim.
É-me insuportável esta ideia, mas olho para ti e sinto-te cada vez mais longe de mim mas tão perto.
Mas o que mais me preocupa é a solidão, nunca pensei tanto nela, nunca a vi tão perto nem mesmo quando me deixaste pai.
Só, sentada neste banco da entrada do hospital... foi tudo tão rápido, nem sequer tenho tempo para te dizer adeus, estou confusa, tudo se passa em mim ao mesmo tempo, entre a revolta, a minha dor e a tua, que se confundem sinto-me perdida.

Estava eu assim, quando alguém se aproxima e me diz: venha, vamos estar um bocadinho com a sua mãe, vamos conversar com ela, ela vai ajudá-la... Pensei, a minha mãe ajudar-me como?
Surpresa das surpresas, pouco tempo depois dei comigo debruçada, sobre os braços da minha mãe revivendo histórias da minha infância, a minha entrada na universidade, a nossa vida noutro pais aonde ela era a minha rainha.
Entoei os teus dons mãe, vi e senti tão forte dentro de mim que eras a melhor mãe do mundo, e entre sorrisos e lágrimas olhava para ti e via que os teus lábios ainda sorriam com as minhas histórias.
Pedia-te para ficares comigo, mas eu sabia que não eras senhora da tua própria vida, mas sabes, estes momentos que passei contigo e que aproveitei ao máximo fazem-me feliz, sinto que fiz tudo por ti, e até fiz coisas que pensava nem sequer ser capaz de fazer
Obrigada mãe por tudo o que me deste e por último a força que senti nestes últimos instantes que tenho gravados no coração.
“Deste livro tão grande que é a nossa vida.·
Temos direito a reescrevê-la, mas nunca a apaga-la....”
  Como esta frase me soa verdadeira
E também compreendo que nunca apagamos nenhuma página, mesmo aquelas que estão riscadas ou têm borrões.”Porque depois do epicentro da dor voltamos a lê-las embora com lágrimas por ser saudosa”
As escritas com o coração deixa saudade trazem saudade mas também nos alegram.
Deixam também o silêncio, o verdadeiro e aquele que fala e não mente.

Outros pediam para continuar:”
Continua, eu peço a deus que te ajude a continuar. Saudades “
E a coragem aumentava sempre e o que se dá é sempre muito mais que o que se recebe.

HÁ SEMPRE ESPERANÇA....
Utilia Ferrão

A ESPERANÇA SEMPRE 1




E nestas conversas eu fico sempre com a Esperança viva dentro de mim

Sem duvida a esperança é:
 A única coisa que nunca devemos perder,
pois muitas vezes
É a única coisa que nos mantêm de pé,
A única coisa á qual nos podemos agarrar
, A única coisa que nos separa do desespero,
 sem ela ficamos vazios sem nada.

 “Nunca se dá tanto como quando se dão esperanças” autor desconhecido

Como sempre tenho dito: aqueles que sofrem deixam-nos a sabedoria do viver ensinam-nos a amar mais e melhor, basta apenas querer ajudar.


quando se consegue dar  e receber, ao cuidar com amor e carinho tudo pode mudar, e a dignidade humana será sempre respeitada e enaltecida

Muito para dar e muito para receber.
Costumo dizer que só se dá o que se tem.
Devemos aprender a receber e por vezes, coisas muito pequeninas como uma frase um sorriso, um aperto de mão um olhar cúmplice enchem-nos a alma e o coração.
Depois de cheia, a alma transborda para aqueles que nos rodeiam

saudades disse...”.a luz da esperança, que vem a ser a coragem de sempre, acreditar na melhora, mesmo que ela não venha! Para que possamos manter a dignidade do ser a cuidar mesmo durante a sua morte."

Claro que a tecnologia da medicina e as medicações ajudam e muito, mas o amor e a dedicação, sabemos, que faz toda a diferença.
Na verdade:


“...nos momentos mais difíceis da vida...sei o que é estar internada (graças a Deus com situações passageiras) mas por isso, sei o quanto vale para um doente um sorriso, um gesto de afecto, uma palavra amiga, ou simplesmente um olhar afectuoso e compreensivo...quantas vezes acontece até falarmos com uma pessoa que não conhecemos o que não podemos falar com a família para não os desanimar.
junto de quem tanto necessita.”

A esperança é sempre a ultima a morrer...fazem-se projectos até ao último instante...até que chega o momento em que tudo termina mas.... Será que tudo foi feito em vão?


“Muito importante também! Sabemos o quanto devemos levar a paz e a tranquilidade. Pois quando estamos no convívio hospitalar tudo já fica muito triste e sombrio a espera de respostas e aceitações. Manter acesa essa luz de fé, amor e caridade é primordial, que vem a ser a coragem de sempre acreditar na melhora, mesmo que ela não venha! Para que possamos manter a dignidade do ser a cuidar mesmo durante a sua morte.

Por vezes essa esperança pode ser dada, por uma pequena festa na fronte, apertar a mão, uma breve carícia nos cabelos... parece pouco... mas não é! Tanto não é, que por vezes nem a família o faz! 


Sabendo que tudo foi feito, isto é: o que estava ao alcance do Humano.
Deixemos então que Deus faça o resto, Ele leva-nos sempre a uma Esperança maior, a da Eternidade para aqueles que acreditam.
Continuar na Esperança dá Força e Vida nas respostas e nas aceitações.







Quando perdermos a esperança nada mais teremos a morrer. Estaremos total e inteiramente mortos P. JAC


.
A esperança, é aquilo que nos anima e que nunca devemos perder.
No mundo de hoje, quase mal se ouve falar de Esperança, portanto, nos nossos hospitais essa palavra surge como ultimo grito, aquele que não desilude, aquele ao qual o ser humano se agarra.
Poderemos nós ser sinais de Esperança na tempestade da vida de tanta gente, como?
Estendendo a mão, sorrindo, olhando, conversando estando atentos ao outro.
È tão simples e tão complicado...Tantas vezes a Esperança escondida debaixo daqueles lençóis...
Lutando com a angustia... mas ela sorri e não se deixa morrer.
Até aquela mosca que rodava á volta do corpo daquela mulher era sinal de morte e ela dizia: ela anda aqui
_Quem ela? Aquela que Deus sabe... (Como se ela não soubesse...) Sim porque eu sinto-a.
Abordar tal conversa não é fácil pois não?
Bom não se inquiete eu vou enxotá-la.
Brincadeira....
Ela sorri e fica-se por aí.
Mas mais descontraída.
Utilia Ferão




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

PRESENÇA 4


Vi, eu também muitos silêncios falar... vi muitos familiares completamente desorientados sem saberem o que fazer em momentos de fim de vida do seu familiar e, por vezes notava uma critica grande que eu não compreendia a razão mas... chegava á conclusão que esta vinha quase sempre do querer dar e não saber o quê do querer fazer e não conseguir, porque o controle da situação escapava.
Ao falar com eles, ao aproximar-me e explicando o porquê de certas reacções deste seu familiar, e colocando-o de modo a fazer algo, por exemplo dar-lhe comida, ajudar a colocá-lo na cadeira, passeá-lo um bocadinho, contar-lhe um pouco do que se estava a passar em família lá em casa, estabelecer em certos casos o contacto pelo toque. tudo isto dava uma certa tranquilidade ao paciente e diminuía as tenções familiares.
Sou enfermeira e tenho alguma experiência neste campo, tenho investido bastante no
acompanhamento destes doentes e familiares e verifiquei que tanto nos médicos como nos familiares como nos enfermeiros o mais difícil no acompanhar, é "o não fazer nada",
Se assim se pode chamar "não fazer nada", porque para mim no campo do acompanhar, há sempre algo a fazer até ao fim.
Projectos até ao fim.

o doente que se encontra no hospital, está muitas vezes preocupado com os filhos com os pais ou outros membros da família até ás vezes com o cão ou até o gato.
Razões suficientes além de outras, para que a angustia seja maior e tantas vezes o doente esteja triste e não fale.
Claro que se os familiares trouxerem notícias diárias do que se passa em casa, ele participa e sente-se da família, integrado nela, mantendo o forte elo de ligação.
A família é sempre muito importante para o pacientemente de "Portas que se podem abrir"
Eu diria mesmo tudo se pode renovar até mesmo as construções mais antigas.
Claro que é necessário saber reconstruir, ter vontade, e ter também alguma ajuda.
Lembro-me agora nem sei porquê do que li :

Em Terceiro Isaías 58, 6-8 
Libertar os que foram presos injustamente.
Pôr em liberdade os oprimidos 
quebrar toda a espécie de opressão repartir o teu pão com os esfomeados
......
Então a tua luz surgirá como a aurora
Dedicado e assinado para ti...

De repente, falta-me a tinta e as palavras.
O sentir não sabe escrever. Age.
Abro páginas e páginas... escreveram tanto?
Escrevi tanto,
Vivi tanto...
Senti tanto...
Amei muito...Amo e Amarei.

Nada retive. Apenas assinei.
Nada disse: Falou o coração.
Poupei silêncios e juntei ilusões

Resmas de duvidas... agora verdades, “sins” e “nãos”.
Tudo verdade.
Neste carrossel da vida.
Espalharam-nas sim. Tentei apanhá-las, sabes?


Voaram minhas... as palavras na ilusão dum castelo iluminado.
Descalcei as luvas, peguei em mim e olhei-me bem nos olhos.

Vi o reflexo do, tal qual eras foste e serás.
O Segredo pousou de galho em galho.
Não desistas, dizia ela. Tinha razão
Utilia Ferrão