sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PRESENÇA 3

PRESENÇA 3

Mesmo aqui e nesta derradeira hora, há algo para fazer e nós enfermeiros além de executarmos umas certas técnicas e administrarmos o que está prescrito... vamos sempre mais além. Damos de nós mesmos... Penso que em todas as profissões isso acontece, há sempre aquela nota pessoa l( a identidade de uma profissão), aquele brio e aquele amor á camisola.

,Neste caso não é bem o amor á camisola, mas sim o respeito pelo objecto e objectivo a atingir.

SER HUMANO SENDO HUMANO

Nos nossos cuidados, tarefa hábil e frágil que é o cuidar do ser humano e neste caso na fase mais delicada da vida

Aquela em que as folhas de Outono caiem

Aquela em que os ramos secos de flores se tornam mais visíveis,

Aquelas em que as fotografias passam do álbum para memória aquela em que os files são reais

E...

Partilhar sempre o que temos de melhor no pior que pensamos ser.

Tantas vezes com a nossa própria dor olhamos apenas para o invólucro que nos cerca. (ego centralizamos).

E nesses momentos ficamos fechados sobre nós, isso é triste e mórbido mas se percebermos que nunca estamos sós, mas que mesmo se os amigos ou conhecidos nos abandonam há sempre seres muito próximos que estão sempre connosco?

OS ENFERMEIROS (AS)

Aqueles que nos ajudam a nascerem

Aqueles que nos ajudam a viverem

E

Aqueles que nos ajudam a morrerem

Já pensaram que até mesmo a dor partilhada se torna mais leve?

Isto é como tudo... pois claro.

Suponhamos, bem... imaginamos um ramo de flores que partilho, ele desfaz-se e talvez calhe uma rosa, uma Margarida, uma violeta, um lírio a cada um (uma) daqueles que querem bem recebê-las.

Assim também é a dor ao partilhá-la ela dilui-se e torna-se muito mais leve.

Simplesmente as flores partilhadas consolam as pessoas que as recebem, mas a dor Partilhada?

Essa se não se dá com amor e se recebe com muito mais amor acaba por se multiplicar e proliferar.

E na calma noite dos silêncios, o acompanhante, debruasse-se sobre a dor, e com os olhos postos naquele corpo que se vai desistindo dele mesmo, onde já nem os gemidos se ouvem perscruta agora os sinais sofredores, sinais de vida....

Aquela testa franzida...

Aquela amargura bebida em pequenas goladas,

Num respirar de peixinho fora da água.

E aquela sensação de incompreensível...

“a minha dor? “A tua dor?

A minha não, eu sou enfermeira (o).

Esqueço-me de que sou um ser humano(a) estou para cuidar não posso falhar estou para ajudar...

Algum acompanhante compreende o que é ser-se enfermeiro nestas circunstâncias?

È isso mesmo Ser Cuidador (Cuidar da dor)

Como o pão duro e negro que se esmigalha ao cair assim, nós acompanhamos estes últimos instantes calmos (as) e serenas (os) pois só podemos dar aquilo que temos.

Neste caso eu enfermeira

Baixo os meus olhos sobre as tuas mãos finas um pouco pálidas e frias, pego nelas...

Tento aquecer no peito o que essas mãos geladas me transmitem

Coloco palavras e sentimentos naquelas mãos...

Ternura

Abandono

Impotência

Desisto

Estou em Paz

Obrigada

Foi Tudo Tão Rápido

E por último a Esperança dum derradeiro apertar de mão,

Sem palavras? Sim foi... e então o que significa mais este aperto de mão?

Bom dia como está?

Talvez até á próxima,...

Talvez a pouca força que me resta deposito-a na tua mão.

Continua Tu...

E

Deixando depois “Aquela palidez de neve angélica”

Descida duma montanha mais alta sobre aquele rosto sereno.

Acabou.

Será que acabou?

Não a vida continua

È este último cuidado prestado pela enfermeira(o) em que o único remédio neste caso é injectar paz e tranquilidade para que estes últimos instantes da partida se passem com serenidade.

Isto é apenas uma partilha nada que seja estatisticamente comprovado mas experiências vividas que ficam sempre por ser avaliadas estatisticamente

Obrigada pela atenção

Utilia Ferrão

4 comentários:

  1. Querida Utília,
    A presença, o cuidado, o saber escutar, a ternura, doçura ou o simples olhar ou segurar uma mão tem muito significado pelo doente. Já fui várias vezes internada e encontrei normalmente sensibilidade nas enfermeiras menos num momento muito importante na minha vida : o pos-nascimento da minha filha. Foi tão mau que guardei um trauma durante anos !
    Ser enfermeiro como ser médico não é um "emprego como outro qualquer" como já ouvi alguém dizer porque é um emprego em que se lida com a dor dos outros e não pode haver "eficiência no trabalho sem sensibilidade. Infelizmente, ás vezes acontece.
    FELIZ E SANTO NATAL, amiga Utilia !
    Beijinhos
    Verdinha

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  2. Foi uma belíssima reflexão sobre o papel do enfermeiro, que embora muita gente não se aperceba, está presente em diversas fases da nossa vida como foi dito.
    E é sempre essencial relembrar que apesar do profissionalismo falar mais alto, ainda há humanidade subjacente ao ser pessoa.
    É pena que nem todos os profissionais seja competentes em ambos os campos, mas esperemos que cada um dê o melhor de si.
    Muito obrigada pela sua passagem pelo meu cantinho.
    Beijinhos

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  3. Enfermagem... quão nobre profissão!

    Bjinhos, amiga! Força!

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Um sorriso... mesmo quando tudo e todos se esquecem que ainda vives.
Obrigada